sábado, 22 de junho de 2013

Nas entrelinhas do pronunciamento

Olá Caros Amigos,

Há um bom tempo eu não atualizava o Blog. Como vocês bem sabem, vida de professor não é mole e tempo é um recurso bastante escasso. Entretanto, acho que a oportunidade de exercitar a escrita aconteceu. Hoje, vou fazer uma análise do pronunciamento da moradora mais ilustre do Planalto. Advirto que o texto a seguir não possui caráter partidário, apenas é resultante de uma análise comparativa entre o que se é esposado e o que se é praticado em Brasilia. 

21 de junho de 2013 
Dilma: - Minhas amigas e meus amigos,
Sócrates afirmava que para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos. Poderíamos ainda complementar que a amizade é uma construção diária que exige das partes, entendimento, cumplicidade, cuidado, apoio entre outras coisas. Apesar de tratar-se de uma saudação cordial, não acredito que a nobre Presidenta nos considere como amigas e amigos, ou mesmo, esteja qualificada para isso, nunca olhou nos olhos da grande maioria do povo brasileiro e nem muito menos conhece suas angústias ou anseios.
Dilma: - Todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar.
A nobre Presidenta afirma estar acompanhando com muita atenção as manifestações por todo Brasil. Um ponto importante a ser considerado é que sua gênese é decorrente da falta de atenção a questões fundamentais para o país. A ampla pauta de reivindicações só demonstra que os problemas não são pontuais, e sim, generalizados e sistêmicos.  Houve atenção necessária por parte da nobre Presidenta? Sinceramente acredito que não.
Presidenta, seria impossível não estar atenta quando as reivindicações deixam de ser aquelas das filas dos postos de saúde, dos pais que tem seus filhos em escolas de péssima qualidade, daqueles que todos os dias saem de casa sem certeza de que irão voltar, dos que dependem de serviços públicos repletos de funcionários  incompetentes e que estão ali por indicação política, essas reivindicações apesar de sempre terem existido nunca foram percebidas ou consideradas. Será porque não se gera capital político (imagem) ou votos?
Dilma: - Todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa DEMOCRACIA e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar.
Nossa caríssima Presidenta reduz o conceito de democracia ao direito de poder ir as ruas se manifestar. Em sua origem a, palavra significa governo do povo, e onde as pessoas podem participar da vida política de seu país. A nossa única participação efetiva é quando somos obrigados a votar, o que é característico do modelo de Democracia Representativa. A força da Democracia reside na sua capacidade de compreender e representar os legítimos interesses do povo. Nós BRASILEIROS vivemos num regime democrático de direito, mas, não de fato!
A única coisa coerente e impossível negar é a insatisfação da juventude brasileira diante dos desmandos, da corrupção, da inércia, da cumplicidade, entre tantos outros fatores. Porém, devemos considerar que não foram apenas os jovens participando das manifestações, todos os brasileiros de bem desejam ver o Brasil avançar, mas, um avanço com mais justiça social e equilíbrio. Entretanto, a nossa Presidenta fala diretamente aos jovens porque sabe a juventude tem como suas principais características o questionamento e a disposição para defender suas ideias. Enquanto os mais maduros tendem a ter um comportamento mais tradicionalista.
Dilma: - Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas. Mas, se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita coisa a perder.
Energia política? Como assim? Acho que o mais correto seria uma nova Consciência Política, um momento de questionamento e politização dos brasileiros. Fazer melhor e mais rápido só é possível após uma profunda revisão dos métodos aplicados na gestão do país. Enquanto os critérios de nomeação forem políticos haverá pouca  ou nenhuma possibilidade de melhoria. Nós temos no país um Ministro da Educação que é economista e que sua experiência com educação se restringe a atuação como docente universitário. Onde a nobre Presidenta teve ou tem mais de 15 ministros ou secretários de estado do seu partido e a grande maioria sem adesão de formação a área que devem gerenciar, algo me parece equivocado. Será que esqueceram de informaram a nobre Presidenta que o país não deve ser usado como um cabide de empregos? E que pastas ministeriais não podem ser usadas como moeda de troca para acomodar interesses escusos de pretensos aliados políticos e seus partidos? 
Limitações políticas? Ah! Claro Presidenta! Aquelas que lhes são impostas pelo interesses partidários e/ou particulares. Claro Presidenta! Aquelas que de vez em quando estouram na mídia, sejam geradas por casos de corrupção e outros escândalos tão comuns aí em Brasília e que acontecem bem debaixo do seu nariz. Claro Presidenta! Aquelas impostas pelo corriqueiro baixo número de deputados nas plenárias nas votações de matérias de interesse do povo, mesmo recebendo verbas astronômicas e imorais. Mas que comparecem em massa quando precisam legislar em benefício próprio ou quando a sessão é extraordinárias para aumentar ainda mais os seus ganhos. Chega a ser engraçado ver deputados se queixando de ter que trabalhar na madrugada para decidir questões graves para o país. Avisa aí que eu faço isso quase todos os dias para formar melhor os meus alunos e sustentar com dignidade minha família, nem por isso ganho um centavo a mais! O faço simplesmente porque é o correto e minha consciência exige.
Limitações econômicas? Aí já é piada! Um país que arrecada trilhões em impostos todos os anos, que tem dinheiro para modernizar os aeroportos de Cuba, que pode custear viagens ao vaticano há altíssimo custo, que não sabe investir o dinheiro do povo, que distribui renda com intenções eleitoreiras, que gasta outros milhões com missão de paz no Taiti, que desperdiça o nosso dinheiro em gastos de custeio e quase nada na geração de infra-estrutura, que financia a Copa mais cara de todos os tempos. Quem tem uma carga tributária superior a 30% o que sufoca as empresas nacionais. Não há limitações econômicas Presidenta! O que há são políticas de aplicação de recursos desequilibradas e profundos ralos abertos por onde some o dinheiro do povo brasileiro. Muito me espanta a nobre Presidenta ter o desplante de ir em rede nacional afirmar isso. Não somos idiotas senhora Presidenta!
Dilma: - Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas. Mas, se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita coisa a perder. 
Afirmação coerente. Seja ela gerada por manifestantes ou por pessoas interessadas em desqualificar as manifestações públicas que temos visto.
Dilma: - Como Presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia.
A voz das ruas só foi ouvida por causa da intensidade da revolta popular, nunca antes na história desse país  o canal de diálogo esteve realmente aberto, Brasília é um mundo estranho onde um Deputado Federal ganha mais de 100 mil entre salário e verbas de Gabinete, enquanto um professor doutor ganha menos de 10 mil por mês, eu não importaria de trocar um deputado por 10 novos professores doutores nas nossas universidades. Campeiam as incoerências na nossa capital política. 
Dilma: - Como Presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia.
Sem comentários! Um Governo que permite a um bando de condenados assumir a Comissão de Constituição e Justiça, não tem envergadura moral para falar de lei e ordem. Isso me lembra um triste ditado: Aos meus amigos os benefícios da lei, aos inimigos, os seus rigores. 
Dilma: - O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo. Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia – o poder cidadão e os poderes da República.
Essa afirmação é justíssima, muitos morreram, outros tantos torturados, idéias livres não eram permitidas, muito menos havia liberdade para exprimi-las. A nobre Presidenta deve lembrar bem da época. O período da Ditadura Militar. Uma coisa me preocupa, estamos vivenciando um momento de mudanças comportamentais do povo brasileiro, observando também pelos noticiários ações que podem classificar manifestações sociais como terrorismo, o projeto de lei está em tramitação no Congresso Nacional e é de autoria do Deputado Federal Onyx Lorenzoni – DEM/RS.
No artigo § 4° Considera-se como grupo, associação ou 
organização terrorista, para os fins do disposto no caput deste artigo, todo o agrupamento de duas ou mais pessoas que, agindo em comunhão de esforços e conjunção de vontades, visem subverter a integridade e o funcionamento das instituições do Estado Democrático de Direito ou de seus representantes constituídos, mediante a prática ou ameaça de dano que intimide a população. Será que a nossa Presidenta pode ser considerada como Terrorista ou apenas Revolucionária? E nós? O povo brasileiro pode até escolher uma denominação para o novo grupo, em vez de Al Qaeda? Aqui no Brasil poderia ser "Os Caídos", ou talvez "Os Miseráveis", ou "Os Explorados", eu prefiro o mais simples, apenas o POVO BRASILEIRO.
Justiça não se faz com políticas compensatórias se faz com criação de oportunidades reais e respeito! A esmola humilha aquele que a recebe. Cotas nas universidades só perpetuam as diferenças. Escola de qualidade Brancos, Negros, Pardos, Índios, e para todos! 
Dilma: - O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo. Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia – o poder cidadão e os poderes da República.

Os poderes da República são decorrentes da emanação do poder popular, garantido pela Constituição Federal de 1988
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Por favor alguém aí avisa a Presidenta que ela só precisa cumprir o que está escrito na Constituição.

Então, eu concordo com a nobre Presidenta, quando ela afirma que:
Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo, de propor e exigir mudanças, de lutar por mais qualidade de vida, de defender com paixão suas ideias e propostas, mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira.

Nobre Presidenta esse é o nosso direito constitucional. Não estamos pedindo favor e nem precisamos de permissão para exercê-lo.
Concordo também quando a Presidenta afirma que: 

O governo e a sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos. Essa violência, promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático. Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil. Todas as instituições e os órgãos da Segurança Pública têm o dever de coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo.

Não compactuo com a violência dos protestos, assim como a Presidenta me sinto envergonhado por isso, porém, o que realmente me envergonha é ver o Governo violentar todos os dias os direitos básicos dos cidadãos, aqueles mesmos que alimentam os cofres do Governo, aqueles que nada ou muito pouco recebem em troca dos seus meses de trabalho para o pagamento de impostos. Me envergonha ver gente deitada pelo chão das emergências médicas, me envergonha ver mulheres parindo em uma cadeira e morrendo por falta de socorro, me envergonha ver crianças alfabetizadas que não sabem ler, me envergonha o governo apresentar indicadores de que nossa educação está evoluindo fabricando indicadores que não retratam a realidade, me envergonha ver que professores tem seus salários diminuídos e nem sequer tem segurança para trabalhar, me envergonha não possuir uma escola pública de qualidade para atender aos alunos e suas famílias. Me envergonha ver nossos representantes aumentarem os próprios salários na calada da noite, Me envergonha vê-los enriquecer enquanto o povo brasileiro permanece na real miséria social, aquela que não se resolve com transferência de renda. Me envergonho de muitas coisas que vejo no país, há muitos motivos para me envergonhar, mas, acima de tudo há muitos mais motivos para amá-lo.

Gostaria de dizer a Presidenta Dilma que os 20 centavos não retratam os anseios do povo brasileiro, mas simboliza a gota d´água. Nós desejamos mudanças profundas para melhoria do país. Que apesar de Vossa Excelência se intitular a Presidenta de todos os brasileiros, ainda não haje como tal. Principalmente quando afirma que combaterá de maneira sistemática a corrupção e o desvio de recursos públicos, e tem como aliados figuras investigadas, processadas e condenadas por corrupção. 

Gostaria de fazer algumas perguntas também, a primeira é: Por quê só agora quer somar esforços com os outros chefes dos poderes? Por quê só agora um plano nacional de mobilidade? Não precisamos de novas fontes de recurso para financiar a educação, esses recursos já existem! Só estão sendo desviados para outros lugares, talvez cuecas e meias. Médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS? Que tal aparelhar o SUS para os que aqui já estão possam desenvolver dignamente o seu trabalho, melhores condições de trabalho afetam a produtividade sabia? Uma última pergunta, se é verdade que a Presidenta acredita que o POVO brasileiro deve ser ouvido em primeiro lugar, porque é o setor privado que está sendo o mais beneficiado no seu mandato? 

Concordo quanto a oxigenação do nosso sistema político. Mas é incoerente a nobre Presidenta falar sobre encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, quando os seus gastos pessoais são proibidos de ser divulgados, não acho que seja uma bom exemplo de transparência. Quanto a reforma política ela só vai acontecer quando o povo deixar de eleger os mesmos representantes, quando for mais criterioso e politizado, porque se depender de vossa excelência, isso nunca irá acontecer. Não há vontade nem interesse em mudar a política brasileira. Onde o enriquecimento ilícito, as falcatruas, as mordomias, campeia livremente e sob o nariz da Presidência da República, ou será que a Presidenta assim como seu antecessor não sabe de nada?
Dilma: - Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação.

Segundo a Ministra Miriam Belchior o orçamento previsto para a educação em 2013 é de R$ 38,093 bilhões, fonte: Agência Brasil. Só de estádios já gastamos 28 bilhões de reais e muito mais ainda virá por aí. Pelo amor de Deus Presidenta! O que realmente é prioritário? Investir 28 Bilhões em estádios ou aumentar a verba da educação? E não me venha falar em legado pós copa, o Estádio Mané Garrincha é o maior exemplo do mau uso do dinheiro público, Brasília nem tem expressão no futebol nacional, vai ser mais um elefante branco financiado pelo nosso suor.
E quanto a Copa, o povo BRASILEIRO não irá mais tolerar a política do "Pão e Circo"!

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